Por que algumas montanhas do Japão os nomes terminam em DAKE e outras em SAN?
Você já reparou que algumas montanhas do Japão terminam em -san e outras em -dake? Essa diferença vai além da língua: enquanto -san está ligado a montanhas de forte valor cultural e espiritual, -dake geralmente se refere a picos mais técnicos e escarpados, associados ao montanhismo. Um detalhe pequeno no nome, mas cheio de significado na relação do Japão com a natureza.
Fabio Akira
12/3/20253 min read




Por que as Montanhas do Japão se Chamam (San) e (Dake) ?
Quem pratica trilha no Japão ou apenas observa os mapas logo percebe um detalhe curioso: muitas montanhas terminam em “-san” (como Fuji-san), enquanto outras terminam em “-dake” (como Yari-dake). À primeira vista, ambos parecem simplesmente significar “montanha”. Mas, na verdade, essas terminações carregam diferenças linguísticas, culturais e até espirituais.
Entender essa distinção é também uma forma de compreender como os japoneses enxergam as montanhas: não apenas como formações geográficas, mas como entidades simbólicas, espirituais e culturais.
O significado literal de “-san” e “-dake”


Imagem da montanha Yari-dake
Imagem do Monte Fuji ou Fuji-san
–san (山)
Leitura japonesa (kun’yomi) do ideograma 山
Significa literalmente: montanha
É a forma mais tradicional e formal
Usada especialmente quando a montanha tem:
valor histórico,
valor religioso,
grande importância cultural.
Exemplos famosos:
Fuji-san (富士山) – Monte Fuji
Tsukuba-san (筑波山)
Hakusan (白山)
–dake (岳 / 嶽)
Também significa montanha ou pico
Refere-se mais especificamente a:
picos íngremes,
montanhas escarpadas,
formações rochosas e técnicas
Está muito associado ao alpinismo e ao montanhismo técnico
Exemplos conhecidos:
Yari-dake (槍ヶ岳) – “Montanha da Lança”
Hotaka-dake (穂高岳)
Kita-dake (北岳) – segunda montanha mais alta do Japão
Em resumo:
-san = montanha em sentido amplo e cultural
-dake = pico, cume, montanha técnica
A diferença não é apenas linguística — é cultural e simbólica
No Japão, as montanhas sempre foram vistas como lugares sagrados, morada de deuses (kami), monges ascetas e espíritos da natureza. Por isso, muitas montanhas chamadas de “-san” estão diretamente ligadas a:
santuários xintoístas,
templos budistas,
práticas espirituais como o shugendō (ascetismo nas montanhas).
O Monte Fuji, por exemplo, não é apenas a montanha mais alta do país — ele é também um símbolo nacional e espiritual, venerado há séculos. Por isso, o uso de “-san” reforça seu caráter reverente.
Já as montanhas com “-dake” costumam ter perfil mais “selvagem”, associado ao desafio físico, à escalada técnica e ao montanhismo esportivo.


Imagem de Kamikochi
Imagem desenvolvida por IA
Curiosidade importante: japoneses dizem “Fuji-san”, não “Monte Fuji”
No exterior, costumamos dizer “Monte Fuji”. Mas, no Japão, dizer apenas “Fuji” pode soar incompleto ou até rude. O correto culturalmente é Fuji-san, pois:
o “-san” não é apenas um sufixo geográfico,
ele também carrega um tom de respeito, semelhante ao “-san” usado para pessoas.
Ou seja, o monte é tratado quase como uma presença viva.
Existe regra fixa para usar “-san” ou “-dake”?
Não existe uma regra matemática rígida, mas há tendências claras:
Uso Tendência
-SAN Montanhas famosas, sagradas, históricas
-DAKE Picos técnicos, escarpados, alpinos
Ambos Algumas montanhas admitem os dois nomes
Exemplo curioso:
Asama-yama (浅間山) também pode ser chamada de Asama-san, dependendo do contexto regional.
A influência do Budismo e do Xintoísmo nos nomes das montanhas
No xintoísmo, as montanhas são vistas como locais onde os deuses habitam.
No budismo japonês, elas se tornaram locais de:
retiro espiritual,
meditação,
ascetismo,
peregrinação.
Por isso, chamar uma montanha de “-san” muitas vezes implica um reconhecimento simbólico de sua sacralidade.
Já o uso de “-dake” cresceu com:
a modernização do montanhismo,
a cartografia técnica,
a influência do alpinismo europeu no Japão a partir do século XIX.
Entre a geografia e a espiritualidade
Enquanto no Ocidente as montanhas são geralmente vistas como:
obstáculos naturais,
desafios esportivos,
no Japão elas sempre foram:
portais espirituais,
locais de purificação,
símbolos de permanência e transcendência.
Assim, a diferença entre -san e -dake não é apenas uma questão de tradução. Ela reflete duas formas de se relacionar com a montanha:
uma mais espiritual,
outra mais técnica e esportiva.
Conclusão
Quando você vê os nomes Fuji-san, Kita-dake, Yari-dake, não está apenas diante de etiquetas geográficas. Está diante de uma herança milenar que mistura:
língua,
religião,
cultura,
respeito pela natureza,
e espírito de aventura.
No Japão, uma montanha não é apenas um monte de pedra. Ela é presença, desafio, silêncio e símbolo. E seus nomes carregam tudo isso.
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